sexta-feira, 6 de julho de 2012

A Verdade na Universidade: por uma Universidade mais democrática e popular


A Verdade na Universidade: por uma Universidade mais democrática e popular
por Gabriel Landi Fazzio, diretor de Memória do Movimento Estudantil da UNE e militante da ParaTodos

     No último semestre, a juventude brasileira mostrou estar na linha de frente da luta pela Memória, Verdade e Justiça em nosso país. Tomando as ruas com seus escrachos e protestos, não apenas fez frente às manifestações reacionárias de setores midiáticos e militares que ladravam contra a Verdade e a Memória: foi fundamental para acelerar o processo de instalação da Comissão Nacional da Verdade. Tendo nascido anos após o fim do período de autoritarismo, essa geração se move por entender o quanto resta da Ditadura em nosso país ainda hoje: na desigualdade estrutural de nossa sociedade, no silêncio conservador da mídia, na arbitrariedade da Polícia Militar, na constante criminalização da luta política.
   Nas Universidades não é tanto diferente. Para além de todos obstáculos impostos cotidianamente, que dificultam aos estudantes que se organizem e mobilizem, a própria estrutura de nossas Universidades leva as marcas da Reforma Universitária autoritária de 1968. Ainda que nos últimos anos o processo de expansão de vagas nas Universidades Públicas tenha transformado sua composição social, nosso modelo de ensino superior ainda é profundamente tecnicista, mercadológico e profissionalizante. Com pouca ênfase na pesquisa e na extensão universitária, o processo pedagógico aplicado no Brasil hoje sobrecarrega o estudante de aulas expositivas que pouco dialogam entre si ou abrem espaço à reflexão crítica. A Universidade trata o ensino como um processo industrial, onde se busca ejetar as universitárias e universitários o mais rápido possível para o mercado de trabalho. Dentro desse paradigma meritocrático e sufocante de ensino superior, questões como a interdisciplinariedade, o debate político e a gestão democrática do ensino são consideradas perda de tempo, um desvio de atenção do real objetivo e papel da Universidade – a mera formação de mão de obra qualificada.
     Enquanto movimento eminentemente jovem e crítico, o movimento estudantil deve conseguir entender como aproveitar o momento histórico que vive o Brasil para reabrir a luta por uma Universidade diferente, mais democrática, popular e emancipatória. E, muito nesse sentido, deve entender a quem vem a Comissão Nacional da Verdade.
      Como as Comissões da Verdade de diversos outros países, a nossa deverá investigar os crimes cometidos pelos golpistas na implementação de seu projeto elitista de país e recomendar reformas do aparelho estatal brasileiro que visem torná-lo mais democrático. Tendo o Estado brasileiro sido democratizado em um processo sem rupturas, onde as rédeas da abertura política seguiram por anos nas mãos de agentes da Ditadura, em muito das relações entre a Sociedade e o Estado permanecem desvios autoritários. Um exemplo sempre muito evidente é o da falta de participação dos movimentos sociais nas tomadas de decisão dos Parlamentos e Governos, ou mesmo a repressão policial a que estão constantemente submetidos. Incontáveis são as greves que, no Brasil, são condenadas na Justiça como “ilegais”.
     É fundamental que, em nossa atuação no movimento estudantil, lembremos que um dos motivos por trás do golpe militar de 1964 foi interromper a luta da União Nacional dos Estudantes e dos movimentos populares por uma Reforma Universitária que buscasse ampliar o acesso à Universidade Pública, gratuita e transformadora, e exigir que tal debate esteja na base da compreensão do significado político da Ditadura Civil-Militar.
     Para tanto, é preciso que os e as estudantes debatam profundamente a importância da Comissão da Verdade, do resgate da Memória e da luta pela punição dos golpistas. Em diversos países do mundo, estudantes universitários contribuíram (através de grupos de pesquisa, estudos e debate) com os trabalhos das Comissões da Verdade, apontando sentidos para suas investigações e ajudando a divulgar para a sociedade os avanços obtidos por tais Comissões, pressionando-as sempre que necessário.
    Protagonista no processo de luta que se desenrola a partir da nomeação da Comissão da Verdade, a Juventude deve pautar seus rumos e prioridades. Está nas mãos desta geração levar adiante a busca interrompida por uma Universidade Pública para todas e todos, capaz de formar crítica e humanisticamente e de estar à serviço da construção de um Brasil mais popular e igualitário.